ALMIRANTE GAGO COUTINHO
ADRIANO MOREIRA
Presidente do Instituto de Altos Estudos
da Academia das Ciências de Lisboa
Professor Emérito
da Universidade Técnica de Lisboa
Ainda conheci o Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho, então já retirado do ativo da Marinha, mas tendo atingido em vida a figura de um herói nacional com lugar reservado e destacado na história de Portugal que lhe aconteceu viver entre 17 de fevereiro de 1896, data do nascimento, e 1959 quando faleceu a 18 de fevereiro. Foi um período de vida em que a circunstância portuguesa foi semeada de incidentes graves, designadamente o desafio do Reino Unido ao projeto do Mapa Cor de Rosa, a Ditadura de João Franco que seria marcada pelo assassinato do Rei D. Carlos (1908), a implantação da República em 1910, a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a agitação pública que enquadrou a queda de Machado dos Santos e José Carlos da Maia, a curta ditadura de Gomes da Costa (1925). Viveria o regime que receberia forma na Constituição de 1933, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), morrendo aos 90 anos. O fim do século em que nasceu é marcado pela previsão do considerado historiador positivista do cristianismo, que foi Ernest Renan (1823-1892), o qual, em L’Avenir de la Science (1890), proclamou: “é sobretudo sob a forma religiosa que o Estado velou até aqui pelos interesses suprassensíveis da humanidade. Mas a partir do momento em que a religiosidade do homem se venha a exercer sob a forma puramente científica e racional, tudo o que o Estado concedia antes ao exercício religioso pertencerá por direito à ciência, única religião definitiva”. Lembro de novo estas referências porque, na tardia evolução Social, cultural, científica, dos Estados Ibéricos, neste sul que na União Europeia parece reproduzir a fronteira, agora pobre, do Império Romano, e por isso acompanhando com dificuldade o que foi chamado a “belle époque”, não existe um único facto que relacione a longa vida do Almirante com o acidentado processo político do “portugalório” dos vencidos da vida, mas unicamente a fidelidade da Marinha ao dever de servir a Pátria, porque a Pátria nos contempla. Oficial da Marinha Portuguesa, aparece sempre referido como geógrafo, cartógrafo, historiador, navegador, e, finalmente, junto com Sacadura Cabral, gloriosos aviadores que efetuaram a Primeira travessia aérea do Atlântico Sul, num frágil hidroavião chamado Lusitânia, em 1922, quando a política metropolitana se caraterizava pela multiplicação das agitações, antes dos atentados contra estadistas, que foram a primeira forma de terrorismo político que havia de evoluir para as graves formas atuais.
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