Ponto de partida para a reportagem de capa da VISÃO desta semana: Gago Coutinho, um dos raros oficiais da Marinha que chegaram ao posto mais elevado, o de almirante, por distinção, foi bem mais do que apenas o navegador do piloto Sacadura Cabral na epopeia da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, em 1922, que ligou Lisboa ao Rio de Janeiro. Rebelde, fustigou os seus superiores na Marinha, por abuso de poder, e denunciou a prepotência dos roceiros de São Tomé – onde corrigiu a passagem da linha do equador. É esta faceta de Gago Coutinho, a de grande cientista, que ainda hoje continua a ser esquecida. Historiador e seu biógrafo, Rui Costa Pinto diz, em entrevista incluída no dossier: “Estamos perante um homem muito para lá do seu tempo e nem os ministros da Educação perceberam a importância do investigador, como era sua obrigação. Os programas de História não se renovam e mantemos os nossos jovens na ignorância.”
Coutinho percorreu milhares de quilómetros a pé, a cavalo ou em carroças puxadas por bois para delimitar fronteiras (e, com teimosia científica, ganhar território) em Timor, Angola e Moçambique. Além de geógrafo incansável, escreveu ensaios, desenhou inventos e explicou como os navegadores de Quinhentos alcançaram novos mundos. Era também crítico dos supremacistas e desportista firme: com mais de 70 anos, continuava a fazer argolas, aparelhadas numa trave no teto da sua casa. Não por acaso, dizemos nós, o Museu de Marinha, em Lisboa, inaugurou agora, a propósito dos 150 anos do nascimento do almirante, uma exposição intitulada Gago Coutinho – Viajante e Explorador, patente até 24 de maio. A mostra conduz o visitante por feitos de Coutinho que a generalidade da sociedade desconhece. Costuma chamar-se a este tipo de iniciativa “preenchimento de uma lacuna”. J. Plácido Júnior , Jornalista |
Gago Coutinho, esse desconhecido
16 de Outubro de 2019 por costapinto
Deixe um comentário